BN Americas
5 de set. de 2023
O que estamos vendo de maneira bem clara na região é que o volume de operações de M&As está se recuperando de maneira mais rápida no Brasil do que em outros países, e isto reforça uma expectativa de que teremos curvas de recuperação diferentes nesses países.
Embora o número de transações de fusões e aquisições na América Latina tenha caído no primeiro semestre, a recuperação está no horizonte, impulsionada pelo Brasil.
A região registrou 1.261 transações no período, uma queda de 35% em relação ao ano anterior, com o Brasil registrando quase dois terços dos negócios anunciados, segundo a consultoria de risco global Kroll.
Alexandre Pierantoni, diretor de finanças corporativas para fusões e aquisições da empresa, falou com a BNamericas sobre o cenário.
BNamericas: Qual é o estado do cenário para fusões e aquisições (M&A) na América Latina?
Pierantoni: A resposta difere de país para país, porque há momentos diferentes – tanto políticos quanto econômicos – no Brasil, México, Colômbia, Argentina, entre outros.
O que estamos vendo de maneira bem clara na região é que o volume de operações de M&As está se recuperando de maneira mais rápida no Brasil do que em outros países, e isto reforça uma expectativa de que teremos curvas de recuperação diferentes nesses países.
BNamericas: Quais são as particularidades de cada país?
Pierantoni: No Brasil estamos vendo, do ponto de vista econômico, a curva de juros reduzindo antes do que em outros países.
Já na Argentina temos um processo eleitoral que causa incertezas, enquanto no México vemos ainda uma economia bastante ligada aos fatores relacionados à economia dos EUA.
Fazendo estas considerações, vale mencionar um aspecto específico sobre o Brasil: ser o maior país da região. Este ano, até agosto, tivemos 923 operações de M&A no Brasil. Este número representa uma queda de 8,7% em relação ao volume visto no ano passado, mas já significa uma recuperação, porque nos primeiros meses deste ano estávamos com uma queda anual no volume de transações no país superior a 30%.
Para 2024, vejo o Brasil somando entre 1,5 e 1,6 mil operações. Como comparação, ano passado tivemos 1.543. O ritmo de tal retomada também irá depender da recuperação do mercado de capitais local, que deve acontecer entre de maneira mais forte entre o quarto trimestre desse ano, além dos primeiros meses de 2024.
O fato que chama a atenção sobre M&As na região também é que vemos um número mais elevado de transações feitas por players estratégicos e menos de private equities. Isso está muito ligado ao reposicionamento das cadeias globais de valor.
BNamericas: Quais setores serão os destaques de M&A?
Pierantoni: Os setores mais resilientes são infraestrutura, mineração, óleo e gás… tudo que está associado a energia e transição energética.
Estamos vendo um reposicionamento das empresas, com indústrias que antes estavam na Ásia vindo para a America Latina.
Além disso, tem também uma necessidade de diversificação de portifólio de investidores globais que esta beneficiando investimentos no Brasil e na America Latina.
BNamericas: Os fatores de risco mudaram?
Pierantoni: Mudaram algumas prioridades, mas os temas continuam os mesmos.
Continuam como fonte de preocupação os temas ligados a corrupção na região, aos riscos políticos associados. Estes são temas que continuam com riscos elevados. Mas hoje há temas ligados à agenda ESG, sobretudo a questão ambiental, os quais antes não eram tão seriamente considerados.
Hoje, a empresa que não levar a sério as questões ambientais no seu dia a dia corre o risco real de não ter uma operação de M&A concretizada. Dez anos atrás, a questão ambiental não estava na agenda dos procedimentos de due diligence, e hoje isto é uma prioridade.
Há também as questões ligadas ao greenwashing. Hoje, as empresas já estão preocupadas com isso e têm claramente procedimentos para estarem alinhadas aos padrões internacionais.
Nessa fronteira, o desafio para melhorar os mecanismos ligados à parte ambiental atualmente são maiores para empresas de pequeno e médio porte. As grandes empresas, grandes exportadoras, já tem modelos mais alinhados com as melhores praticas.
Além destes, outros tópicos continuam como grande fonte de risco na região, como a questão tributária.
BNamericas: Como você avalia a agenda de infraestrutura do Brasil, incluindo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)?
Pierantoni: Existe uma percepção hoje, no Brasil, de que há um governo que quer ter uma presença mais forte na economia. Isso posto, acredito que teremos uma agenda de concessões e até mesmo privatizações mais ligadas aos governos locais.
No entanto, temos que lembrar que não só no Brasil, mas em toda a America Latina, os governos não têm folga de recursos para fazer investimentos e vão precisar do investidor privado para investirem na infraestrutura básica.
BNamericas: O que explica o desempenho econômico acima das expectativas no Brasil?
Pierantoni: O investidor estrangeiro, quando olha aspectos gerais da economia brasileira, tem uma percepção comparativa melhor, pois olha para as condições de outros países também.
Os investidores começam a se acostumar com um cenário de maior volatilidade na região. Sabem que os ciclos políticos daqui trazem alguma incerteza e sabem que ha questões tributarias, entre outras, ainda a serem resolvidas.
Mas é importante dizer que investidores globais sempre tiveram uma visão critica da America Latina e isto tem relação com as incertezas.
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